As Letras Namuranas são uma cifra simples, onde cada símbolo representa uma consoante/dígrafo ou uma vogal, e as palavras são desenhadas de forma linear, na vertical. Desenvolvi para ilustrações e elementos gráficos de Tiriana, projeto de RPG.
A maior inspiração do cenário são povos originários brasileiros, e como essas culturas não costumam ter escritas, mas têm grafismos exuberantes, pensei em algo que representasse a verticalidade de árvores e que fosse bastante ornamental. Além disso, dentro da história tiriana os textos tradicionais eram desenhados em folhas de buriti, então teria de ser algo fino e delicado.
As letras namuranas são uma das formas mais comuns de escrita em Tiriana, com muitas variações regionais. Há locais em que se escreve de baixo para cima, em outros as letras são mais retas; há regiões que separam a haste em cada palavra, outras em cada frase, e assim por diante.
Os exemplos abaixo são adaptações de histórias presentes em Poranduba Amazonense, registradas por Barbosa Rodrigues em 1890. Ambas foram musicadas por Villa-Lobos como Duas Lendas Ameríndias em Nheengatu: I. O Iurupari e o Menino e II. O Iurupari e o Caçador.
Nheengatu | Português |
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[Manha! Manha! Manha! Manha!] | [Mãe! Mãe! Mãe! Mãe!] |
Yepé kunhã, paá, u kire taíra irumo i kisaûa pupé. | Uma mulher, dizem, dormia com o filho em sua rede. |
Yurupari, paá, u su u îu’uca kunhã iuá su’i i membira u imu kisaûa uirpe. | O Jurupari tirou o menino dos braços dela e o colocou no chão. |
— Manha! Manha! U xipiá Yurupari yané uirpe unhenu u ikó…! | — Mãe! Mãe! Olha o Jurupari deitado embaixo da gente…! |
Ariri, paá, kunhã u peseka muirakanga u nupa i membira. | Então a mulher pegou um pedaço de pau e bateu no seu filho. |
[Manha! Manha! Manha! Manha!] | [Mãe! Mãe! Mãe! Mãe!] |
Arame, paá, Yurupari u pure u nhe’e: | Depois o Jurupari saltou, dizendo: |
— Xa ganane! Xa ganane! Xa ganane! | — Enganei! Enganei! Enganei! |
Unhana, u su ana. U su ana. | Correu e foi embora. E foi embora. |
Nheengatu | Português |
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Yepé apegaua u su kamundu u asema suasu kunhã i membira irumo. U îumu suasu membira, u pesika suasu mirĩ. Manha o îauau. U mu iaxu suasu mirĩ, suasu manha u seno rame u ure i membira rese. A’e kuite u îumu îuire suasu mirĩ manha. U manu. Ariré o maã sese i manha kuéra u iumunhã uaá suasu rama. Yurupari u îumumeu suasu rama u ganane arama i membira u kire rame. | Um homem foi caçar e encontrou uma veada com seu filho. Flechou o filhote, e pegou o veadinho. A mãe fugiu. Quando o filhote chorou, a mãe voltou. O caçador flechou, então, a mãe veada. Ela morreu. Ao chegar perto, o homem viu que matou sua própria mãe. O Jurupari havia transformado a mãe do caçador em veada para enganar o filho enquanto dormia. |
A escrita namurana é baseada no Laoris, de Anton Brejestovski. O alfabeto vem de uma língua de mesmo nome que o compositor criou para o grupo Caprice, usada nas músicas do álbum Elvenmusic 3 — Tales of the Uninvited.
Tiriana ainda está em desenvolvimento, e escrevo sobre o projeto lá no Encontros Aleatórios.